A arte independente!
Por Fernanda Teka
A arte nunca foi tão visivelmente importante como nesse período de pandemia. Pra tentar manter a saúde mental, enfrentar a solidão e ansiedade, consumimos muita música, lives, filmes, livros e mais um mundaréu de conteúdos que estão ali, disponíveis ao nosso toque.
Certamente você também notou, junto a esses conteúdos, mais pessoas compartilhando a frase: apoie a arte independente!
Mas se aumentamos o consumo das artes, por quê esse apelo ainda é necessário? É aqui que te convido a refletir sobre fins diferentes para a mesma ação. Consumir arte e consumir para apoiar a arte independente.
Mas o que é arte independente?
É comum usarmos o termo “independente” como adjetivo àquele que consegue se “bancar” financeiramente, mas fazendo uma pesquisa rápida no dicionário encontramos: que ou quem não é dependente, age com autonomia, mantém-se livre de qualquer influência.
No caso dos artistas, além de serem aqueles que têm o controle total da carreira e das atividades artísticas, são os que estão desvinculados dos grandes grupos multinacionais, como as gravadoras, no caso da música.
Só pra contextualizar, em resumo foi assim: depois da crise econômica enfrentada pelo país na década de 80, o cenário mudou. A indústria artística começou a ser mais “seletiva” – lê-se excludente – a reduzir os elencos e a marginalizar artistas que, dentro da lógica dela, não eram produtos que venderiam bem. Porque a indústria vê a arte como produto de venda e não como agente transformador da sociedade – já voltaremos a falar disso – e no meio disso tudo, surge uma cena independente como resistência cultural e política que rema contra essa nova organização da indústria, pra dizer que ela não é a única via de acesso ao mercado de trabalho.
Então estamos falando aqui que arte independente é a arte de pessoas que entendem que ser “bem-sucedido” neste meio, é ser visto como alguém que compõe um trabalho sério, de qualidade e que, através dele, é possível transformar a sociedade. Ainda, que não aceitam que os valores do seu trabalho sejam regidos por interesses impostos de cima para baixo, mas sim pelos desejos autênticos de quem os criou. Ou seja, nada tem a ver com autonomia financeira, tem a ver com resiliência. Não é sobre qualidade musical, é sobre viabilidade.
E como você pode apoiar a arte independente?
“As pessoas devem acreditar na mudança que elas podem fazer apoiando artistas… Deixem de gostar de famosos e comecem a gostar de artistas” – Bia Ferreira, cantora e compositora, em um desabafo no Instagram, em maio deste ano.
A falta de incentivo às produções autorais não é uma novidade, mas a falta de reconhecimento do trabalho do artista, acaba passando desapercebido. Algumas vezes por mera desatenção àqueles que já conhecemos, outras por desinteresse em pesquisar além do que as mídias nos apresentam ou simplesmente por achar que a nossa participação não fará muita diferença – afinal, sou só mais uma pessoa.
Mas além do carinho que é prestigiar as apresentações ao vivo e o apoio financeiro de quem tem condições de comprar um produto ou pagar um ingresso, é possível agregar valor ao mercado independente através das redes sociais e streamings, que já se consolidaram como principais fontes de receita e divulgação artística. Isso significa que aquela curtida, comentário, escutada e compartilhamento funciona como agente multiplicador da obra. É uma forma de destacá-los em seu meio de convívio e de ser uma espécie de “equipe de marketing” daqueles que contribuem com nosso bem-estar, através de suas criações. Experimente fazer isso essa semana. Compartilhe o trabalho de seus amigues artistas, ouça playlists de músicas autorais da sua cidade, comente nas postagens deles sobre o quanto aquele trabalho é importante e assim estaremos um passo mais perto de mudar a visão da sociedade sobre a importância da arte.
