O que este machismo faz com a gente?!
Por Gleiton Piva
Você pode estar se perguntando o porquê justo um homem, branco, cis e machista em constante processo de desconstrução está falando sobre este tema, quando as mulheres são as que mais sofrem com isso.
A resposta é simples: nós homens também sofremos com isso e, às vezes, nem nos damos conta porquê isso é normal e já faz parte da estrutura que vivemos.
Os homens atualmente vivem 7 anos a menos que as mulheres, se suicidam quase quatro vezes mais e, segundo o Ministério da Saúde, o suicídio entre os homens cresceu 28% entre 2007 e 2016.
Além disso, estatisticamente, apesar das mulheres sofrerem mais com depressão que os homens, especialistas apontam que os números distorcem a realidade porquê os homens não têm coragem de falar sobre os sentimentos. Eles não assumem que não estão bem e, com frequência, demonstram os sintomas através da irritação, agressividade e consumo de álcool.
A dificuldade em falar é tão grande que, de acordo com a Associação Quebrar o Silêncio, um homem leva em média 20 anos para falar quando sofrem abuso sexual e 30% sofrem ejaculação precoce e disfunção erétil, mas também não procuram ajuda.
A dificuldade masculina em se abrir, falar ou nomear os sentimentos é gigante. E quanto mais “ameaçado” (frágil) se sente, maior a tendência em responder com violência. É o instinto animal de usar a agressividade como defesa e, claro, as mulheres são vítimas disso na maioria das vezes, e a tendência é piorar – INFELIZMENTE – porquê cada vez mais – FELIZMENTE – as mulheres estão se destacando, conquistando seu espaço de direito. Alguns especialistas apontam que talvez por isso, os casos de feminicídio vem crescendo: mais agressividade masculina e maior consciência das mulheres para denunciar o agressor.
É certo que o homem se beneficia e muito do machismo estrutural, mas como mencionado no documentário “O silêncio dos Homens” lançado em 2019, os homens vivem no “céu” nas posições de poder – deixemos a conversa sobre a cultura do poder para um momento mais oportuno – mas também no “inferno”. Segundo levantamento da INFOPEN de 2016, cerca de 95% dos encarcerados no Brasil são homens. Assim, estamos aprisionados pela cultura da luta pelo poder e também nas penitenciárias.
Isso quer dizer que os homens são vítimas ao invés de agressores? Não, absolutamente!
O convite é para construirmos juntos uma sociedade mais igual. As mulheres são a maioria da população brasileira e a outra parte é criada majoritariamente por mulheres. Como estamos “todos” educando nossos filhos e filhas para termos pessoas mais sensíveis, abertas e empáticas?
Às vezes, ainda ouvimos de algumas mulheres ou vemos em suas ações, atitudes machistas que, por muitas dessas vezes, não são propositais, apenas estão incrustadas na cultura sócio-histórica da sociedade moderna. São comentários ou associações inconscientes. Na moda temos a associação de cores por gênero (meninos vestem azul…) ou comentários despretensiosos como associar mulher que usa calça a uma pessoa forte e determinada, mas um homem de saia como algo grotesco, ridículo.
Como pai em tempo integral quantas vezes era o único homem nas reuniões escolares ou ouvi mulheres me perguntando, “mas e a mãe deste menino”. Na época da gravidez, é comum ver as progenitoras recebendo o presente numa inconsciente desassociação da relação pai-bebê? Mas que mais tarde podem impactar numa maior ou menor presença paterna na educação das crianças.
Se mesmo assim, você tem dificuldade em se ver como machista, além do documentário produzido pelo Papo de Homem, gostaria de deixar mais dicas sobre o machismo:
- O filme “Eu não sou um Homem Fácil”, uma comédia leve que mostra a inversão dos papeis sociais construídos e
- “The Mask you live in” (2015) que mostra como a sociedade define o papel da masculinidade desde cedo e quem sabe mudamos de ideia sobre quem somos para apontar menos o machismo no outro e construir uma sociedade mais equilibrada.
- O Podcast Sexoterapia do Universa UOL que é voltado para mulheres, mas que trouxe uma série de episódios sobre machismo a partir de novembro de 2020, com um homem convidado para o bate-papo na mesa.
E aí homens, vamos conversar sobre nossa masculinidade e nossos medos?